sexta-feira, 26 de junho de 2009

Dois discos insuperáveis (eis o chiado do blog)



Bem, vou postar aqui algo que escrevi há mais de dois anos sobre dois discos maravilhosos (e agora no recesso, devo voltar a postar os episódios do Homem-Pássaro):




Low - David Bowie - 1977


Este disco é o primeiro de três trabalhos que David Bowie fez em Berlin, com o músico eletrônico Brian Eno. Este disco marca uma virada na sonoridade do Bowie, que tinha feito Rock'n'roll no começo dos anos 70 e tinha experimentado um flerte com a Soul music entre os discos Diamond Dogs e Station to Station. Nesse mesmo ano, Bowie produziu os dois primeiros discos solo de Iggy Pop The Idiot e Lust for life. Este disco marca o início, em plena ascensão do punk na Inglaterra, da experimentação com sintetizadores e música eletrônica (influência de uma banda alemã dessa década, o Krafwerk), configurando o surgimento de uma linguagem musical diferenciada do que era feito até então na música pop britânica, e do que Bowie tinha feito antes.


As faixas do disco são estas:


Speed Of Life (2:45)


Breaking Glass (1:42)


What In The World (2:20)


Sound and Vision (3:00)


Always Crashing In The Same Car (3:26)


Be My Wife (2:55)


A New Career In A New Town (2:50)


Warszawa (6:17)


Art Decade (3:43)


Weeping Wall (3:25)


Subterraneans (5:37)


O disco ainda possui estas faixas bônus:


Some Are (3:24) Previously unreleased track recorded 1976-79


All Saints (3:35) Previously unreleased track recorded 1976-79


Sound And Vision (4:43) Remixed version, 1991


Speed of Life - faixa de abertura, instrumental, que tem uma sonoridade um tanto estranha para ouvidos familiarizados apenas com o Bowie roqueiro do começo dos anos 70. Trabalha com a repetição de algumas frases melódicas, algo que os músicos minimalistas fazem muito bem, tal como Phillip Glass (autor da trilha sonora da trilogia Qatsi), que fez uma Sinfonia com três músicas desse disco nos anos 90.

Breaking glass - possui uma letra mínima, acompanhando sua curta duração e trata de uma cena estática, em que um sujeito dirige algumas palavras um tanto estranhas ao seu interlocutor, identificado como uma pessoa problemática.

What in the world - possui uma levada bem pop, apesar da melodia um tanto estranha para uma canção pop da época.

Sound and Vision - possui uma longa parte instrumental, puxada pela guitarra, com uma letra mínima, mostra um eu lírico isolado na imensidão de uma sala azul curtindo apenas catarse que o som e a visão lhe proporcionam.

Always crashing in the same car - possui uma letra curta e uma melodia conduzida por efeitos eletrônicos e de guitarra.

Be my wife - apresenta uma letra curtíssima, mais parece um pedido de casamento, tem uma levada bem pop conduzida pelo piano.

A new carrer in a new town - intrumental, apresenta os mesmos procedimentos minimalistas com um desenvolvimento bem interessante.

Warszawa - primeira parceria com Brian Eno, apresenta uma melodia arrastada, como uma marcha fúnebre, e uma letra um tanto estranha, que muitos afirmam ser um dialeto criado pelos dois (sabe-se lá, se fruto da cocaína!?)

Art decade - apresenta uma melodia um tanto sombria e soturna.

Weeping wall - apresenta uma melodia com influências da música oriental, especialmente da japonesa.

Subterraneans - apresenta um ar atmosférico, bem distante, quase diáfano.

Quanto às bônus, eu só ouvi as duas a seguir. A versão remixada de Sound and Vision de 1991, eu desconheço.

Some are - segunda parceria com Eno, apresenta uma letra curta e sussurrada, numa atmosfera fria e gélida de uma manhã de inverno.

All Saints - terceira parceria com Eno, instrumental, apresenta uma melodia executada apenas por instrumentos eletrônicos, e por incrível que pareça, me lembra a sonoridade da música techno, sem o peso e batida acelerada.

As músicas Subterraneans, Some Are e Warszawa foram retrabalhadas por Phillip Glass, um dos papas da música minimalista, para dar origem à Low Symphony.

Eu já li algumas coisas na internet por aí, e realmente sou obrigado a concordar com uma que dizia que este disco tinha captado como nenhum outro a vida urbana solitária e cinzenta, que o homem tinha diante de si, na década de 70, congelada pelos sintetizadores.


Heroes - David Bowie - 1977



Segundo álbum gravado em Berlin, marca a continuação da experimentação com música eletrônica, em que David Bowie mergulhou, com a colaboração de Brian Eno, no álbum lançado no mesmo ano Low. Suas faixas são:

Beauty And The Beast (3:32) [David Bowie]

Joe The Lion (3:05) [Idem]

Heroes (6:07) [Bowie - Bowie/Eno]

Sons Of The Silent Age (3:15) [David Bowie]

Blackout (3:50) [Idem]

V-2 Schneider (3:10) [Idem]

Sense Of Doubt (3:57) [Ibidem]

Moss Garden (5:03) [Bowie/Eno]

Neuköln (4:34) [Bowie/Eno]

The Secret Life Of Arabia (3:46) [Bowie - Bowie/Eno/Alomar]


Beauty and the beast - 1a. faixa, apresenta uma levada pop com uma letra que apresenta a vida de um sujeito bem comportado que segue cantando a canção da Bela e da Fera, que talvez retrate as oscilações que a vida tem.

Joe the lion - apresenta uma levada pop guiada pela guitarra e mostra a vida pouco católica de um sujeito dividido entre a realidade e os sonhos.

Heroes - uma das mais famosas músicas de Bowie deste período e de sua carreira, apresenta a história de um casal diante de um muro, com soldados armados, que sonha diversas possibilidades para mudar essa realidade. Dizem que Bowie compôs a letra da canção inspirado por ver um casal sentado em um banco diante do Muro de Berlin.

Sons of silent age - apresenta uma candência mais lenta, como um lamento, e trata da situação de jovens sem perspectiva que se vêem presos a uma realidade da qual se sentem deslocados.

Blackout - apresenta tanto letra e melodia quanto um lamento desesperado de um sujeito que pede auxílio para uma interlocutora.

V-2 Schneider - apresenta uma melodia instrumental marcada apenas pela repetição do título, que marca uma descida na cadência da música.

Sense of doubt - canção instrumental com um ritmo lento, como uma marcha bem diáfana.

Moss Garden - instrumental, apresenta uma melodia suave, influenciada pela música oriental.

Neuköln - instrumental, apresenta uma melodia etérea, marcada por um sax angustiado em contraponto com o órgão.

The Secret Life Of Arabia - última faxia do disco, originalmente, apresenta uma levada pop e um tema mezzo-oriental, dialogando com a música árabe. Trata de uma visão da vida oriental, com ares secretos para os ocidentais, que correm da vida (I was running at the speed of life*). * uma referência, talvez, à primeira faixa de Low que justamente tem esse título.

Das faixas bônus do disco, a única que conheço é a primeira.

Abdulmajid (Previously unreleased track recorded 1976-79) [Bowie/Eno] - instrumental, apresenta uma cadência mais lenta (mas bem próxima daquilo que a dance music usa acelerado), com um ar extra-terreno.

Joe The Lion (Remixed version, 1991) - que infelizmente não conheço.

O papa da música minimalista, Phillip Glass, gravou uma sinfonia com base nas canções desse álbum nos anos 90, a Heroes Symphony, com estas faixas: Heroes, Abdulmajid, Sense Of Doubt, Sons Of The Silent Age, Neuköln e V-2 Schneider